Editorial #16: Luís Loures

Academia, inovação e transferência de tecnologia, a falácia de uma história sem protótipo…

Vivemos tempos de grandes e aceleradas mudanças, com níveis de imprevisibilidade e de incerteza sem precedentes, que oferecendo renovados caminhos e oportunidades de investigação, inovação e desenvolvimento, reforçam o papel das instituições de ensino superior enquanto bastiões do conhecimento, da criatividade, da cultura e da democracia, forçando-as a assumir, sem temores, as tarefas que as novas gerações e o planeta exigem. Porém, este quadro de conhecido e reconhecido mérito e potencial para investigar, criar e inovar, de pouco nos valerá se não formos capazes de ser relevantes, transferindo o que criamos, de forma a valorizar a sociedade e a economia…

Gerar valor, não só com o que se ensina, mas também com o que se investiga, inova e transfere, é um desafio que convoca, ou pelo deveria convocar, a todos: instituições do sistema científico e tecnológico nacional, decisores políticos, empresas, todos! Todos, cooperantes e focados na implementação de um modelo “virtuoso”, centrado num ecossistema criativo, onde ensino, investigação, inovação, transferência e empreendedorismo funcionam de forma contínua e circular, contribuindo para o reforço e competitividade da economia e do próprio sistema.

Ainda assim, e pese embora a ligação entre a inovação e a transferência de tecnologia seja quase umbilical, e os seus benefícios evidentes, a verdade é que o seu impacte real na economia, fica frequentemente aquém do expectável, considerando que o processo de difusão e adoção do conhecimento técnico-científico e dos avanços tecnológicos pelas empresas – leia-se a sua aplicação prática e/ou comercialização – continua a ser o “elo mais fraco” do binómio inovação – transferência de tecnologia…

Muitos perguntarão, porquê? Mas a resposta, que até poderia parecer complexa, é até bastante simples: infelizmente, num ecossistema criativo e inovador como aquele que se espera da ACADEMIA, continuam a ser demasiadas as ideias extraordinárias que ano após ano teimam em não sair do papel! Continuamos agarrados a uma narrativa sem protótipo, onde a transferência de tecnologia está dependente não da qualidade da investigação e da inovação que se produz, mas antes do interesse que a mesma desperta nos diferentes atores – sejam investidores, empresas, e/ou a sociedade em geral – e da existência de um ambiente favorável à criação e aplicação de novas ideias…

Neste cenário, por mais vontade que se tenha, e por mais que se queira fazer, embora seja inegável que a inovação e a transferência de tecnologia apresentam cada vez um impacto mais significativo no desenvolvimento económico e social, estimulando o aparecimento de novos negócios, a criação de empregos, o aumento da produtividade, e a melhoria da qualidade de vida, seria falacioso não reconhecer que é ainda longo o caminho, até que possamos dizer que temos um sistema de transferência de tecnologia do qual nos podemos orgulhar!

Luís Loures
Presidente
Politécnico de Portalegre