Editorial #4: Fernando Rebola

Este é já o quarto editorial correspondendo a outras tantas newsletters do projeto TransCoTec e, portanto, muito já se escreveu (e bem!) sobre os objetivos e as atividades de transferência de conhecimento e tecnologia previstas no âmbito do projeto, bem como sobre o seu impacto no território onde as três instituições de ensino superior (IES) que integram o consórcio do projeto estão inseridas. Vou, pois, redigir estas palavras a partir de uma perspetiva diferente sobre o projeto, a partir do seu potencial contributo para a concretização da missão das IES e para impulsionar a colaboração institucional.

Tendo em conta a letra dos normativos legais que enquadram a missão das IES, torna-se evidente que o projeto TransCoTec se enquadra plenamente na missão das instituições politécnicas. Se tomarmos como referência a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), Lei n.º 46/86, de 14 de outubro, no n.º 4 do seu Artigo 11.º pode ler-se que o ensino politécnico, deve ser “orientado por uma constante perspectiva de investigação aplicada e de desenvolvimento, dirigido à compreensão e solução de problemas concretos”, ou seja na LBSE é valorizada a atividade de II&D das instituições politécnicas, cujo crescente reconhecimento da qualidade e do impacto desta componente essencial da sua missão, multiplicado pela rede capilar destas IES no território nacional, será ainda ampliado quando, uma vez retiradas as barreira legais, estas IES vierem também a poder outorgar o grau de doutor. Esta componente de investigação aplicada e de desenvolvimento que integra a missão das IES está intimamente associada e articulada com a atribuição das IES identificada na alínea d) do artigo 8.º do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (Lei n.º 62/2007, de 10 de setembro), ou seja, com “a transferência e valorização económica do conhecimento científico e tecnológico”. Assim, um projeto que visa, essencialmente, “potenciar a valorização dos resultados de I&D e reforçar a transferência de conhecimento científico e tecnológico para o setor empresarial”, emerge espontaneamente do ADN desta instituições, nas quais a investigação aplicada e a transferência do conhecimento integra o seu Ser e o seu Estar na comunidade e é reconhecidamente um contributo determinante para o ecossistema inovador das regiões onde estas instituições se encontram sediadas, seja através das atividades de impulso e apoio ao empreendedorismo, como são exemplo o apoio à criação de spin-offs e de start-ups, seja através do desafio e estímulo à inovação através da integração na economia de soluções emergentes das atividades de I&D.

E isto remete-nos para a questão da colaboração institucional. Colaborar significa trabalhar juntos (não apenas lado a lado), significa partilhar estratégias e objetivos, significa complementaridade e harmonia de competências e funções. E quando me refiro à colaboração institucional, não pretendo referir-me apenas à saudável e virtuosa colaboração entre as IES que integram o consórcio do projeto. Refiro-me também à colaboração mais abrangente e à complementaridade que se pretende entre as IES e as organizações do setor da atividade económica. Na verdade, cada vez mais se recorre à expressão cocriação para integrar este espírito de colaboração, retirando a sequencialidade que o termo transferência ainda encerra, ou seja, uns que produzem o conhecimento (a academia) transferem-no para outros que o recebem (as organizações do setor da economia). Esta lógica de fluxo do conhecimento cada vez faz menos sentido e, em bom rigor, está extinto, ou pelo menos em vias de extinção, já que tendencialmente a investigação e o desenvolvimento se harmonizam num processo de criação conjunta, desde a identificação das oportunidades de inovação à integração do conhecimento na resolução de problemas ou na melhoria da eficiência e da eficácia dos processos. A colaboração é o caminho e o seu poder é muito superior ao poder da competitividade! E este é um caminho que o Projeto TransCoTec está a ajudar as instituições a percorrer.

Fernando Rebola
Vice-Presidente
Politécnico de Portalegre