Editorial #8: João Samartinho

Perspetivas de uma trajetória entre parceiros para a transferência de conhecimento, internacionalização e investigação em espaços lusófonos.

A possibilidade de cursos de doutoramento nos institutos politécnicos é uma vontade legitima, já não um devaneio, que muitas vezes esbarra não nas exigências de um Corpo Docente qualificado, mas noutras condicionantes, justificadas por quem as impõe !? Quiçá quase inatingíveis para aqueles que de dimensão regional necessitam de igual qualificação para desempenhar os seus nobres e exigentes papéis profissionais.

Se olharmos a tendências recentes poderemos citar Pedro Teixeira, no parlamento, durante a apreciação na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) ao falar de doutoramentos nos politécnicos que “O país tem a ganhar com um sistema diversificado, instituições que respondem a necessidades diferentes. Uma tendência de homogeneização não contribui para esse dinamismo“, in OBSERVADOR.

Olhando para o período da vida dos Politécnicos em que aos mesmos era negada pela Tutela a possibilidade de atribuição do Grau de mestre, por todas as razões e mais algumas, mas numa visão redutora desta questão, porque o nosso corpo docente não era composto de doutores suficientes e porque a investigação produzida no seio das nossas instituições era claramente, e ainda é, em número significativamente inferior, houve o engenho de alterar as condições relativas à qualificação do corpo docente.

Consequência dos mestrados dentro das instituições politécnicas foi, claramente, o aumento e a visibilidade da produção científica, da investigação e publicação de artigos, da transferência de conhecimento entre a Academia e as organizações, situação muitas vezes suportadas pela aposta em projetos de investigação associados a dissertações de mestrado de caráter nacional e internacional.

Hoje é transparente que os institutos politécnicos podem aumentar a sua intervenção e atuação em projetos que potenciam a transferência de tecnologia se conseguirem trabalhar em parceria, pois o todo é mais do que a soma das partes, ganhando escala, mas também se tiverem uma visão mais além e perceberem a importância de alternativamente à impossibilidade de criarem doutoramentos, terem a capacidade de olhar para os parceiros lusófonos como um motor de arranque para conseguirem maiores espaços de investigação e maiores espaços de transferência de conhecimento e tecnologia.

A possibilidade de partilhar um corpo docente qualificado entre vários politécnicos parceiros e universidades de países de língua oficial portuguesas, pertencentes ao espaço lusófono, permitirá  a estas universidades a criação, registo e acreditação, nos seus países, de Cursos de doutoramento. Assegurar parte do corpo docente destes doutoramentos abrirá, inequivocamente, um espaço de investigação e transferência de conhecimento e tecnologia para os docentes dos politécnicos parceiros e para as organizações envolvidas. Este conceito permitirá aos docentes envolvidos adquirirem know how que os doutoramentos podem proporcionar e abrir-lhes-á a porta para uma maior produção científica, um maior número de publicações e invariavelmente uma maior transferência de conhecimento e tecnologia para o mundo organizacional.

Antagonicamente fica um espaço de reflexão que desejavelmente não deverá ser demasiado longo … sob pena de sermos ultrapassados pelo tempo e não passarmos a mais um exemplo tipificado no marketing como o da KODAK. A “Kodak começou a ter dificuldades financeiras no final da década de 1990, como resultado do declínio nas vendas de filmes fotográficos e sua lentidão na mudança para a fotografia digital, apesar de desenvolver a primeira câmera digital independente.”, in Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodak.

João Samartinho

Coordenador TransCoTec IPSantarém

Pró-presidente para a Área da Internacionalização e Cooperação