Editorial #13: Ricardo Campos

GUARDIÕES DO FUTURO

Não é possivel passar a estafeta a uma próxima geração.

Somos nós e nesta década que temos de ouvir a razão da ciência e passar das palavras aos atos para resolver duas grandes crises que colocam em causa o nosso futuro – a Crise Climática e a Crise de Recursos.

Todas resultado de um Sapiens que se marimbou para o Planeta, e que por isso tem agora um planeta que se marimba também para o Sapiens, e que responde através dos eventos extremos, da perda de espécies vivas, e de um mundo onde se adensam as consequências de termos descartado o ambiente na equação do desenvolvimento.

Apesar da ciência ser muito clara, ao dizer que despejar gases com efeito de estufa na atmosfera como se esta fosse um esgoto a céu aberto não era grande ideia, a civilização industrial continuou poluindo e continua a colocar em cada ano mais 60.000 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa que retêm a radiação infravermelha no planeta, e estão a levar que ano após ano se batam novos recordes de temperatura, num planeta que é agora uma casa a arder.

A arder nos oceanos, de onde vêm tempestades cada vez mais fortes e destrutivas, carregadas com energia de um sistema climático em rotura, e que ao mesmo tempo evapora cada vez mais água dos oceanos provocando “rain bombs” (bombas de chuva) cada vez mais frequentes e que provocam cada vez mais danos e perdas de vidas.

A arder nos solos de onde é evaporada cada vez mais água, provocando secas longas e profundas, que afetam principalmente os países pobres cujo único ativo que em muitos casos existia era a previsibilidade de um clima que agora mudou.

A arder nos polos, que ano após ano batem novos recordes de temperatura, e que mesmo nos invernos polares se perdem enormes quantidades de gelo, e que assim fazem subir o nível das águas do mar e colocam em risco muitas cidades costeiras.

A arder no stress do calor, e por isso o ano passado mais de 400 estações metrológicas bateram recordes de temperatura, e que ondas de calor cada vez mais frequentes afetam a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

A ciência foi muito clara. Era preciso parar de queimar carvão, petróleo, e gás natural, parar de deitar todo este lixo gasoso na atmosfera. E o que fizemos?

Nada. Continuámos e continuamos queimando, porque em 2023 continuamos a depender em 82% dos combustiveis fósseis para toda a energia que precisamos.

A isso somamos uma economia predadora de recursos, que extrai e descarta para o lixo, numa economia que não considerou também um futuro onde teriam de viver os nossos filhos e nossos netos.

Cometemos este dano, enorme nos últimos 50 anos, quando os cientistas de forma cada vez mais precisa nos informavam que caminhávamos para o abismo.

E agora? Ainda vamos a tempo? Quanto tempo nos resta?  Que precisamos de fazer?

E agora? Agora temos de parar. Parar de queimar os fósseis, descarbonizar a economia e avançar a grande velocidade para a energia do vento, do sol, para as baterias, para os combustiveis verdes como o hidrogénio e gases renováveis. Agora precisamos de reciclar, de parar a extração e avançar com a economia circular, uma economia com o ambiente na equação, que funcione como a natureza em que o resíduo de um ecossistema é o alimento do outro.

Só assim resolveremos a Crise Climática e a Crise de Recursos.

Ainda vamos a tempo? Quanto tempo nos resta?

Estamos na década decisiva, temos de reduzir emissões drasticamente até 2030, porque se não o conseguirmos fazer, muito dificilmente chegaremos a 2050 com a neutralidade carbónica.

O que precisamos fazer?

Cada um de nós se constituir como Guardião do Futuro.

Manter a pressão alta.

As grandes mudanças na história da civilização aconteceram de baixo para cima, com uma opinião publica informada e uma cidadania ativa, que pressionaram e ajudaram no progresso da civilização.

As grandes transformações aconteceram porque a ciência foi capaz de gerar novas possibilidades para a humanidade.

É hora de o fazermos e a razão nunca foi tão forte.

Salvar o futuro do nosso modo de vida.

Hora de Agir!

Ricardo Campos

Presidente do Fórum da Energia e Clima

Observador Consultivo CPLP

Membro do Consórcio Guardiões com o Politécnico de Portalegre e CCDR Alentejo